O mundo do balé se prepara para dois eventos distintos que celebram tanto a tradição quanto a inovação. De um lado, a aclamada companhia ucraniana Grand Kyiv Ballet retorna ao Shubert Theatre com o clássico “O Lago dos Cisnes”. De outro, jovens talentos da Crooked Tree Arts Center (CTAC) School of Ballet mostram seus trabalhos no espetáculo anual “Fall for Dance”.
“O Lago dos Cisnes” com uma “alma ucraniana”
Os dançarinos do Grand Kyiv Ballet se apresentarão novamente no Shubert Theatre neste sábado. A companhia, que já esteve no local em março, retorna com a missão de trazer atenção renovada ao balé ucraniano.
O diretor artístico e coreógrafo, Oleksandr Stoianov, afirma que vê “O Lago dos Cisnes” como um símbolo da cultura ucraniana, e não russa.
“A Ucrânia está lutando em todas as frentes agora, e a frente cultural não é menos importante”, disse Stoianov por mensagem de texto. “Grandes nações escreveram sua história através das artes. Uma nação é verdadeiramente forte e rica quando possui uma identidade cultural e herança poderosas.”
Redefinindo um clássico associado à Rússia
O balé clássico, criado pelo compositor russo Pyotr Ilyich Tchaikovsky e estreado em Moscou em 1877, é há muito tempo associado à Rússia. Contudo, Stoianov espera que essa associação mude com a versão do Grand Kyiv.
Como fundador da companhia, criada em 2014, Stoianov disse que seu objetivo é distinguir o balé ucraniano do russo. Ele relembrou que, antes da criação da companhia, muitos dançarinos ucranianos atuavam em companhias russas, como o Moscow Ballet, e não havia uma separação clara entre os países.
Segundo Stoianov, foi no mesmo ano em que a Rússia atacou territórios ucranianos (2014) que surgiu um movimento para promover especificamente o balé ucraniano. Ele escreveu que, devido à guerra atual, “a cultura ucraniana enfrenta tempos extremamente difíceis”.
A turnê nos EUA e a linguagem universal da dança
Stoianov informou que o Grand Kyiv Ballet está em turnê pelos Estados Unidos desde outubro de 2022, aproximadamente oito meses após a invasão russa em larga escala. A companhia segue proporcionando oportunidades para que dançarinos ucranianos se apresentem internacionalmente. Na temporada deste ano nos EUA, o grupo apresentará seis produções diferentes, incluindo “Branca de Neve”, “A Rainha da Neve” e “O Lago dos Cisnes”.
A companhia de balé também conta com dançarinos de outros países. Viktor Tomashek, um dos principais dançarinos ucranianos, escreveu por mensagem que as diferenças de origem ou idioma são insignificantes quando estão juntos no palco, pois “a linguagem do movimento, da emoção e da música” é “compreendida por todos os corações”.
“Quando dançamos juntos, as fronteiras desaparecem e apenas a arte permanece”, escreveu Tomashek.
Um final feliz simbólico e a recepção do teatro
De acordo com Stoianov, “O Lago dos Cisnes” é um “clássico eterno”.
“Não tentamos reinterpretá-lo; em vez disso, infundimos nele uma alma ucraniana e apresentamos um final feliz, onde o bem triunfa sobre o mal, e o Príncipe Siegfried e a Princesa Cisne permanecem vivos”, escreveu Stoianov. “Isso é profundamente simbólico para a Ucrânia e nosso povo.”
Tomashek, que se juntou ao Grand Kyiv Ballet como dançarino principal em 2022 e interpretará o Príncipe Siegfried, disse que fazer parte da performance permite que ele veja o conto clássico de uma “nova perspectiva”.
“Unimos a profundidade e emoção ucranianas com a precisão da tradição clássica europeia. Essa mistura dá à performance uma energia especial — ela parece viva, humana e em constante mudança”, afirmou Tomashek. Ele observou que, com a ajuda da música de Tchaikovsky, é capaz de encontrar algo novo em cada apresentação: “Você nunca consegue dançar da mesma forma duas vezes.”
Anthony Lupinacci, diretor de publicidade e relações comunitárias do Shubert, escreveu em um e-mail que a primeira apresentação de “O Lago dos Cisnes” teve uma “participação incrível” do público. “Adoro quando os espetáculos trazem uma ótima resposta da comunidade”, escreveu Lupinacci, destacando que a apresentação do Grand Kyiv Ballet contribui para a diversidade da programação do teatro.
Enquanto isso, a próxima geração de dançarinos se prepara
Enquanto o palco internacional recebe a companhia ucraniana, a cena local também se movimenta. A Crooked Tree Arts Center (CTAC) School of Ballet apresentará sua 18ª performance anual “Fall for Dance” às 19h do dia 1º de novembro, no Harbor Springs Performing Arts Center.
O “Fall for Dance” é um espetáculo misto, apresentando trabalhos de balé e dança contemporânea coreografados pelos próprios dançarinos pré-profissionais da escola, além de artistas convidados.
Estudantes e mentores dividem os holofotes
O programa deste ano inclui oito trabalhos originais de estudantes, criados sob a mentoria de coreógrafos convidados: Robin Pettersen, professora emérita da Universidade de Wisconsin-Whitewater, e Richard Walters, diretor de ensaios do Madison Ballet.
A estudante e coreógrafa Claire Miller disse que a experiência a ajudou a “aprender a ser paciente, gerenciar o tempo e trabalhar com outros dançarinos”. Sienna Stuchell, outra estudante, comentou: “Estou grata pela oportunidade de dar vida à minha visão coreográfica. Isso me ensinou a me comunicar com meus dançarinos de diferentes maneiras.”
Além de orientar os alunos, Pettersen e Walters apresentarão seus próprios trabalhos originais. A receita da apresentação apoiará o fundo de bolsas de estudo de dança da CTAC School of Ballet.
A certeza da continuidade da arte
Refletindo sobre a importância da dança, Tomashek, do Grand Kyiv Ballet, disse esperar que no sábado à noite o público experimente a “beleza do movimento”.
“O balé não é uma peça de museu; está vivo. Se alguém sair do teatro um pouco mais quieto, um pouco mais leve por dentro, então fizemos bem o nosso trabalho”, concluiu.

