Experiência imersiva do Hong Kong Ballet revoluciona a dança contemporânea
No dia 24 de junho, a Biennale Danza em Veneza foi palco de uma apresentação surpreendente que rompeu os limites tradicionais do balé. A obra On the Other Earth, do consagrado coreógrafo britânico Sir Wayne McGregor, estreou sem a presença física de bailarinos. A coreografia foi apresentada dentro de um cilindro de quatro metros de altura por oito de diâmetro, envolvido por uma tela LED estereoscópica em 360 graus — a primeira do mundo nesse formato.
O espaço imersivo foi desenvolvido por Jeffrey Shaw e Sarah Kenderdine, professores da Universidade Batista de Hong Kong (HKBU). A conexão entre dança e tecnologia nasceu de uma parceria entre Shaw e Septime Webre, diretor artístico do Hong Kong Ballet, que inicialmente lideraria o projeto. No entanto, ao se dedicar à criação do espetáculo infantil Sam and her Amazing Book of Dinosaurs, Webre convidou McGregor, conhecido por integrar tecnologia em suas coreografias desde os primórdios da computação.
Wayne McGregor e a busca pelo balé infinito
McGregor, que recentemente coreografou os movimentos digitais da banda ABBA para o show virtual Abba Voyage, foi imediatamente receptivo à proposta. Ele voou do Quênia para Hong Kong em dois dias e mergulhou na proposta do espaço imersivo. Shaw destacou a compreensão imediata do coreógrafo sobre como a linguagem digital poderia potencializar o movimento humano.
Com uma carreira pautada por experimentações tecnológicas, McGregor agora explora a possibilidade de criar uma “versão infinita” de uma coreografia — uma dança sem fim. Jeffrey Shaw, por sua vez, é uma lenda das artes digitais desde os anos 1960, tendo criado ferramentas como A Tool for the Analytical Dance Eye com William Forsythe, e participado da criação da icônica capa do álbum Animals do Pink Floyd.
Homenagem a Jock Soto: uma trajetória que quebrou barreiras no balé
Enquanto o balé contemporâneo se reinventa com recursos digitais, outro capítulo importante da história da dança está sendo celebrado: a vida e carreira de Jock Soto. Considerado um dos bailarinos mais influentes de sua geração, Soto será homenageado com uma noite especial que incluirá entrevista ao vivo, improvisação coreográfica e a prévia de Jock Soto: The Dancer and His Life — um arquivo digital pesquisável sobre sua trajetória.
Nascido em Gallup, Novo México, perto da reserva navajo, Soto iniciou-se na dança aos cinco anos e, aos 16, ingressou no New York City Ballet como solista. Trabalhou diretamente com o lendário George Balanchine, dançou ao lado de nomes como Darci Kistler e Wendy Whelan, e marcou presença na cena cultural de Nova York ao lado de Andy Warhol e Keith Haring. Sua participação em Vila Sésamo e performances com Ray Charles ilustram sua versatilidade e alcance.
Tradição e inovação: dois caminhos complementares
Enquanto Soto representa a superação de barreiras dentro do balé clássico — como indígena, porto-riquenho e homem gay — McGregor simboliza o futuro da dança, onde a tecnologia amplia os limites do corpo e da expressão artística. Ambos, no entanto, compartilham uma mesma essência: a paixão pela arte e o compromisso com a transformação.
Essas narrativas, uma voltada à preservação da memória e outra à reinvenção do presente, mostram que o balé está longe de ser estático. Pelo contrário: seja em um cilindro digital em Veneza ou nos palcos clássicos de Nova York, a dança segue viva, pulsante — e cada vez mais conectada com o mundo ao seu redor.