Um filme de Natal ruim, baseado em um trocadilho antiquado, que não sabe como lidar com sua ideia satânica absurda.
Se você mora em um país onde o Natal é amplamente celebrado, provavelmente já ouviu alguém comentar que “Santa” e “Satan” têm as mesmas letras. Talvez tenha sido aquele vizinho evangélico curioso, um colega de escola, ou até mesmo uma referência como o filme para TV de 2020 Letters To Satan Claus. É um trocadilho antigo. Mas, se há alguém capaz de dar nova vida a essa piada, seriam Peter e Bobby Farrelly, certo? Os criadores de Quem Vai Ficar com Mary? e Debi & Lóide fizeram carreira estendendo piadas bobas e comportamentos ainda mais absurdos em longas-metragens cômicos. Com certeza, poderiam transformar essa ideia simples — um jogo de palavras que até uma criança de sete anos entende — em algo engraçado.
Em Dear Santa, os irmãos Farrelly (com Bobby na direção e Peter co-escrevendo o roteiro com Ricky Blitt) usam esse trocadilho como ponto de partida para uma pergunta peculiar: e se uma criança com dislexia acidentalmente enviasse uma carta para Satanás em vez de Papai Noel?
A criança em questão é Liam (Robert Timothy Smith), um doce garoto de 11 anos que só quer que seus pais (Brianne Howey e Hayes MacArthur) parem de brigar para que possam ter um Natal tranquilo. Apesar das preocupações dos pais de que Liam pode estar ficando velho demais para acreditar em Papai Noel, ele escreve uma carta ao “bom velhinho”. Mas, por engano, endereça o envelope a “Satanás”.
Por que ele não escreveu “Papai Noel” ou “Santa Claus”? Por que a mãe, que estava presente enquanto ele escrevia, não revisou o envelope, sabendo que o filho tem dificuldades de aprendizado? Estas são perguntas que o filme rapidamente abandona, à medida que surgem situações ainda mais confusas.
Poucas horas após a carta ser enviada, Satanás (interpretado por Jack Black, numa atuação caricata) aparece no quarto de Liam, fingindo ser Papai Noel. Ele explica que tudo o que Liam aprendeu sobre o Natal é uma farsa. Em vez de presentes, o falso Noel oferece ao garoto três desejos. Qualquer coisa que Liam quiser, desde que não altere a história, será concedida. No entanto, há um porém: se Liam usar os três desejos, o Diabo ficará com sua alma.
É uma ideia que poderia resultar em uma reflexão interessante sobre moralidade em histórias natalinas, muitas vezes previsíveis. Dear Santa até fica mais intrigante quando o melhor amigo de Liam, Gibby (Jaden Carson Baker), percebe que há algo estranho e obriga Satanás a revelar seu disfarce. Como um garoto de 11 anos lida com o dilema de desejar algo que melhore sua vida, sabendo que isso custará sua alma?
O roteiro tenta explorar o impacto disso no mundo complicado da escola, onde Liam enfrenta paixões adolescentes, valentões e uma professora de inglês extremamente rígida. Por outro lado, o filme também sugere um dilema para Satanás: como ele justifica tomar a alma de uma criança inocente, ao invés de alguém mais suscetível ou corruptível?
Apesar das premissas intrigantes, Dear Santa falha em desenvolver adequadamente suas ideias. Em vez disso, o filme se perde em cenas confusas e uma comédia que raramente atinge o tom certo. Mesmo com o carisma de Jack Black, a execução transforma o potencial em um presente de Natal decepcionante.