Retrato pessoal de uma lenda da televisão
A icônica jornalista Barbara Walters nos deixou aos 93 anos, mas sua trajetória continua viva através do documentário “Tell Me Everything”, produzido pelo Tribeca Festival em parceria com a Imagine Entertainment, que estreia no Hulu no dia 23 de junho.
Nossa amizade começou na juventude, quando ainda éramos desconhecidas. Frequentávamos o clube noturno Latin Quarter, na Broadway, que pertencia ao pai dela, Lou Walters. Eu namorava o artista principal do local e ela ainda estava na faculdade. Foi ali que nossas vidas se cruzaram pela primeira vez.
Com o tempo, nossas histórias se entrelaçaram. Morávamos perto uma da outra, viajávamos juntas. Hoje, tenho comigo o relógio de pulso Bulgari que ela usava, dois casacos de pele de vison que foram dela e até vendemos juntas algumas de suas joias de diamante. Sua antiga governanta agora trabalha para mim. Lembro que certa vez pedi comida em seu restaurante chinês favorito e a conta de mil dólares ficou no meu nome. Em outro aniversário, gastei mil dólares em meias-calças para presenteá-la.
Tivemos muitos almoços e jantares juntas. Meu motorista, José, também a levava. Inclusive, compartilhávamos o mesmo médico. A revista People chegou a me citar dizendo: “Se você não fosse alguém, ela não te amava. Você precisava ser alguém para merecer seu afeto.”
Sempre que vinha me visitar, fazia questão de usar chapéu e óculos escuros. Seu cão da raça Havanês, chamado Cha Cha, a acompanhava por todo lado. Nos verões, costumávamos visitar juntas a casa que ela alugava nos Hamptons. Também conhecemos juntas lugares como Irã, Israel, Argentina, Itália e mais de uma dúzia de outros países.
Em uma de nossas viagens, embarcamos em um navio italiano — ela iria fazer um discurso e eu era sua acompanhante. Durante o voo, tomei cinco miligramas de Ambien para dormir. Como não adiantou, tomei outro comprimido. Resultado: desmaiei no meio do café da manhã, com a cabeça mergulhada nos ovos mexidos. A tripulação precisou me amarrar a uma cadeira de rodas para me tirar dali. Enquanto o capitão saudava Barbara ao subirmos a bordo, eu era empurrada pela rampa — e ela não ficou nada feliz com isso.
Sempre que jantávamos no navio, nossa mesa ficava em uma área reservada, para que ninguém nos incomodasse. Em uma ocasião, uma mesa próxima com cerca de dez pessoas estava falando mal de Barbara, em voz alta. Ouvimos tudo. Eu não sabia como reagir, mas ela sim. Ao terminar a refeição, levantou-se, foi até a mesa e disse com firmeza que tinha escutado cada palavra.
Este documentário é mais do que uma homenagem. É o retrato íntimo de uma mulher extraordinária, contada por quem esteve ao seu lado em momentos públicos e privados.